Vivo de esboços não acabados
Não é que vivo em eterna mutação,
com novas adaptações
a meu renovado viver
e nunca chego ao fim de cada um
dos modos de existir.
Vivo de esboços não
acabados e vacilantes.
Mas equilibro-me como posso,
entre mim e os homens,
entre mim e o Deus.
entre mim e eu.
É curioso como
não sei dizer quem sou.
Quer dizer, sei-o bem,
mas não posso dizer.
Sobretudo tenho medo
de dizer porque no
momento em que tento falar
não só não exprimo
o que sinto como
o que sinto se transforma
lentamente no que eu digo.
(Clarice Lispector)
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