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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009


Ternura

Eu te peço perdão
por te amar de repente,
embora o meu amor seja
uma velha canção nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra
da teus gestos, bebendo em tua boca
o perfume dos sorrisos;
das horas que vivi acalentado
pela graça indizível dos teus
passos eternamente fugindo.
Trago a doçura dos que
aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que
te deixo não traz o exaspero das lágrimas,
nem a fascinação das promessas,
nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias,
e só te peço que te repouses quieta, muito quieta.
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem,
sem fatalidade, o olhar estático da aurora.
(Vinícius de Moraes)

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